Muitos fundadores de startups brasileiras iniciam seus empreendimentos através de financiamentos próprios, de amigos e família (o que o mercado chama de “bootstrapping”, um nome em inglês para um acessório que ajuda a calçar botas). Esse cenário de recursos muitas vezes mais restritos pode levar esses empreendedores a sentirem mais pressão para atrair investidores o mais rápido possível, gerando uma ansiedade que pode prejudicar o processo. Essa pressa muitas vezes é justificada: um relatório da UAE Startup Access To Capital 2010-2020 mostrou que as empresas que não têm capital de investidores têm 1,5 vezes mais chances de fechar suas portas.

Na pressa para manter o negócio girando, esse momento de atrair investimentos pode vir carregado de erros que garantem consequências de curto, médio e longo prazo (isso sem contar as diversas negativas pelo caminho). Desde pular a fase de pesquisa, errar na apresentação, até causar rusgas com seus futuros parceiros, são falhas que podem ser cometidas sem que se perceba ao longo das negociações. Para entender melhor esses erros mais comuns, e evitá-los, acompanhe o artigo.

Como as startups brasileiras buscam investimento?

A captação de recursos de investidores das startups brasileiras pode ser um processo longo e desafiador. 

Se a startup acertar na captação de recursos, terá fundos suficientes para expandir seu produto ou serviço, contratar mais pessoas e investir em marketing. Se errar, a empresa pode estar diante de uma crise em seu caixa que pode arruinar seus planos futuros.

Por isso, para iniciar essa busca com o pé direito, algumas informações são essenciais e precisam ser organizadas com antecedência, pois muitos desses itens pode levar algum tempo para serem coletados. Veja as informações mais importantes dessa lista solicitada abaixo:

  • Documento de apresentação da startup (pitch deck)
  • Modelo de Negócios
  • Mercado-alvo (incluindo possível expansão)
  • Currículos da equipe e organograma
  • Informações dos clientes, referências de vendas, cartas de intenção e outros
  • Investimento atual e estrutura de capital
  • Informações financeiras (por exemplo: gastos fixos e variáveis no mês)
  • Objetivos de crescimento de receita com prazos
  • Objetivos estratégicos
  • KPIs (Key Performance Indicators)
  • Descrição e demonstração de todos os produtos e serviços
  • Informações sobre fornecedores ou parcerias significativas
  • Informações legais (incluindo modelo de contratação, CLT, PJ, informações dos sócios, etc). 

Além disso, é essencial que a liderança se destaque durante todo esse processo. A equipe de gerenciamento deve ser inteligente e criativa para liderar a organização da startup ao longo do crescimento, e isso não é tarefa fácil. 

A inovação também é comprovadamente crítica para uma startup brasileira ser aceita como foco de um investidor. Se o segmento do mercado de clientes da startup for muito concorrido, inovar de maneira marcante é o que brilhará aos olhos das empresas de investimento. 

Algumas startups geralmente esperam até alcançem um produto perfeito antes de sair para a busca e conversar com investidores. Porém, os investidores aconselham outro approach: que as startups os abordem antes que fiquem sem dinheiro e tenham uma postura desesperada por um investimento.

É preciso ir a caça de forma organiza e consciente, quando estiver em sua melhor forma, com métricas atraentes e mantendo o poder nas mãos.

Quais os tipos de investidores para as startups brasileiras?

Conhecer os diferentes tipos de investimentos pode fazer toda a diferença para conseguir o almejado “sim”, e aproveitar com inteligência esse recurso injetado.

Existem muitas maneiras de uma empresa adquirir financiamento de capital. Abaixo você encontrará alguns diferentes tipos de financiamento e o que os investidores procuram quando investem em startups.

1. Bootstrapping

Conforme já mencionamos, Bootstrapping é o processo de desenvolver um negócio do zero sem a ajuda de investimentos de empresas segmentadas para tal ou com o mínimo de capital externo (como recursos próprios, de amigos ou familiares). É uma boa forma de começar pequenas empresas utilizando apenas recursos dos proprietários, sem a necessidade de prestar contas para investidores ou tomar grandes empréstimos dos bancos (que podem vir carregados de juros explosivos). 

2. Crowdfunding

Um outro método comum usado pelos empreendedores é levantar capital através do Crowdfunding para suas startups. Como o nome sugere, o crowdfunding (em português “financiamento colaborativo”) levanta investimentos iniciais através de redes sociais ou plataformas como Catarse, Kickante e Benfeitoria onde um grande grupo de pessoas interessadas como amigos, familiares, investidores individuais e até clientes podem fazer suas ofertas.

Os empreendedores podem encontrar investidores dispostos a investir em troca de participação acionária, produtos ou outras recompensas, dependendo do valor despendido.

3. Investidor-anjo

São indivíduos com alto patrimônio líquido interessados ​​em conceder fundos de capital para startups em troca de participação acionária, lucro (que fica entre 5% e 15%) ou dívidas conversíveis. Em média, os valores injetados variam entre R$ 50 mil e R$ 700 mil.

Os investidores-anjo geralmente também oferecem mentoria e podem ajudar as startups a melhorar seu networking. É possível lançar ideias de negócios para investidores-anjo diretamente em eventos que incluem apresentações ao vivo. 

Outros fundadores de startups também podem ajudá-lo a se conectar com anjos ou com grupos de investidores-anjo que possivelmente tenham interesse na proposta da sua empresa.

4. Venture Capital

As empresas de Venture Capital são compostas por investidores privados que buscam empresas e startups com alto potencial de crescimento. Estes “capitalistas de risco” geralmente participam das primeiras rodadas de financiamento e tem como alvo empresas iniciantes que estão no estágio de comercializar suas ideias.

Estes VCs compram ações das startups brasileiras selecionadas e também fornecem alguma assessoria para ajudar no desenvolvimento dessas empresas. 

Eles têm como foco uma gestão forte, um grande apelo inovador, nível de competitividade do produto ou serviço e um bom mercado potencial que leve a um forte retorno sobre os investimentos.

5. Aceleradoras e Incubadoras

Estes dois tipos de investidores servem muitas vezes como porta de entrada para os demais investidores mais robustos.

As aceleradoras podem fornecer um prazo definido para orientar e financiar startups.

Enquanto isso, as incubadoras se concentram em ajudar startups e empreendedores individuais a refinar suas ideias e estabelecer seus planos de negócios. 

Tanto as aceleradoras quanto as incubadoras visam acelerar sua startup para o próximo estágio.

Compreender as diferenças entre os investidores de startups no Brasil e no mundo pode ser muito valioso no momento da captação de recursos. Ao saber o que os investidores de startups procuram, você poderá fazer parceria com os interessados certos em todas as etapas de sua jornada de crescimento.

6 erros fatais que as startups brasileiras cometem ao buscar investimento (e como evitá-los)

Os fundadores de startups são engenhosos e se movimentam rapidamente, mas às vezes essa pressa pode trabalhar contra os bons frutos plantados. Sim, eles podem cometer muitos erros. E quando se trata de levantar investimentos para sua startup, existem muitos equívocos que passam batidos na rotina de grandes empresários.

Vamos aos mais comuns:

Erro 1: Falta de pesquisa

Dentre os muitos erros que os empreendedores cometem, um dos mais prejudiciais é a falta de preparo antes de abordar os possíveis interessados. Antes da captação de recursos, os fundadores devem conhecer todas as informações importantes sobre o mercado, a concorrência e seu público-alvo na ponta da língua. Acredite, muitos fundadores abordam investidores sem entender o básico de seus negócios. 

E é igualmente importante conhecer seus investidores. É fácil ser seduzido por investidores com carteiras incríveis, mas é preciso entender se eles são a melhor opção para o seu negócio, ou se não fluirão da melhor maneira e você perdeu seu tempo. Os investidores certos são aqueles interessados ​​em seu estágio de negócios, seu setor e o seu tipo de oportunidade de mercado. 

Você só saberá essa resposta através dessa importante pesquisa. 

Erro 2: Não saber quanto de investimento precisará

Não saber a quantia necessária para o seu negócio crescer passa a mensagem de que os líderes não planejaram bem a estratégia de crescimento de sua startup.

Saber onde você planeja gastar o dinheiro é uma parte essencial do seu plano de negócios. Muitos fundadores se concentram em tentar provar o valor de seu produto ou seu lugar no mercado, mas os investidores também têm um grande foco na receita. Poucos investidores estão prontos para liberar qualquer quantia de dinheiro sem uma discussão detalhada sobre onde você planeja gastá-lo.

Erro 3: Não saber o seu valuation

Os fundadores que não acham que precisam ser claros sobre seu valuation desde o início das buscas por investimento estão perdendo o bonde. Ninguém vai jogar dinheiro em um ponto de interrogação, então você precisa ser claro sobre o que você criou. 

Alguns fundadores ficam receosos em colocar o valuation no pitch deck, porém, quanto antes apresentá-lo, melhor. Não fazer isso é como oferecer um produto e não revelar seu preço. Sem essa avaliação, os investidores não saberão quanto vale a oportunidade para eles, e consequentemente não investirão.

Para calcular o seu valuation (valor patrimonial), você pode usar a seguinte fórmula: 

Patrimônio líquido = ativos – passivos.

Erro 4: Deixar um terceiro buscar investimento

Sim, levantar investimento para sua startup é demorado e requer muito trabalho. Pode até atrapalhar o seu dia a dia de trabalho se esses esforços não forem bem planejados. É tentador, portanto, procurar outras maneiras, atalhos ou até mesmo alguém que faça isso no lugar dos fundadores.

Porém, se o processo de captação de investimento for delegado para outra pessoa que não os sócios, não será possível ter o controle de importantes fatores nesse processo. O primeiro é não saber se o seu negócio está sendo retratado corretamente para os investidores. O segundo é não conhecer os investidores e não saber, de fato, se é o investidor adequado para o seu negócio.

O ideal é encontrar um consultor respeitado que possa orientá-lo no processo. Mas desconfie de assessores que falam muitos, mas tem poucos resultados.

Erro 5: Timing ruim

O momento certo de buscar investimento pode variar de empresa para empresa, mas alguns pontos podem ser mais comuns. Exemplos: a necessidade de trazer funcionários-chave em áreas especializadas, passar para a venda em grande escala, ou querer evoluir o produto para alcançar novos mercados. 

O que quer que sua empresa tenha como foco para buscar investimento, saber o momento certo de procurá-lo também impedirá que você fique obcecado demais com o financiamento e perca bons deals.

Erro 6: Não pedir feedback aos investidores

A verdade dolorosa é: é improvável que você consiga o financiamento que precisa de primeira. Em algum momento você terá que lidar com as rejeições. Para os fundadores, isso pode ser especialmente brutal. Esta é uma grande parte de ser um empreendedor e também parte da história de sucessos e fracassos de muitas startups brasileiras e mundiais. Mas você pode transformar isso em algo positivo ao pedir um feedback construtivo.

No caso de negativas, pergunte sobre seu pitch, produto ou equipe. A resposta pode ser um aprendizado fundamental que evoluirá o seu método nas próximas tentativas.

Não pense em acertar de primeira…

Estes são os seis maiores erros que vemos empreendedores cometerem ao buscar financiamento. É natural cometer erros, mas é importante aprender com eles todos os dias. Pergunte a qualquer empresário e eles provavelmente admitirão ter cometido muitos ao longo de suas carreiras. A caminhada é longa, mas com os incentivos certos é possível ter um futuro brilhante.

E quando chegar esse desejado “sim”, não cometa o (último) erro de pensar que é o fim de sua jornada. Na verdade, é apenas o começo da aventura de levar sua startup ao próximo estágio. Portanto, aproveite a viagem!